A propulsão à
vela foi uma das primeiras adaptações feitas pelos índios em suas canoas,
imitando esta tecnologia trazida pelos primeiros colonizadores.(1)
O traquete, como
é genericamente chamado pelos caiçaras o conjunto de mastro e velas para a
navegação “à pano”, hoje quase já não se usa mais.
Herança dos heróicos tempos das grandes canoas de voga do
início do século XX (fig. 41)(2).
As vogas eram especificamente canoas de transporte de carga que levavam
mercadorias das comunidades caiçaras isoladas economicamente até os grandes
portos da época. Podiam facilmente transportar 6.700 litros de aguardente, mais
até 08 passageiros, e ainda os remeiros que podiam ser de 04 até 08 contando
com o “patrão” que era o mestre comandante da voga.
fig 41
A canoa de voga é o tipo de canoa mais citado por diversos
autores, em muitos relatos e estudos de várias épocas(3).
Esta recorrência talvez se deva não só ao gigantismo de suas
dimensões, mais de 20 metros de comprimento por 2,2 metros de largura, que
muito impressionavam os cronistas por serem
esculpidas em um só tronco de árvore, mas também pela importância vital das
vogas, já que eram os únicos meios de ligação disponíveis entre os caiçaras e
os grandes centros, levando e trazendo mercadorias e “quitandas”, garantindo a
sobrevivência das comunidades.
Estas viagens em meio a ventos e tempestades criaram
histórias de eventos fantásticos e heroicos que atravessaram gerações até os
dias de hoje.
Os panos(4)
permitiam encurtar as viagens com o vento a favor. Com o vento
contra, as mezenas,(vela latina colocada a popa), entrava em ação, sendo responsável pelo rumo da canoa em ventos laterais. Quando não havia vento, então entravam em ação os remos de voga (fig. 42).
Até hoje o nome “canoa de voga” está associado e algumas
vezes confunde a tipificação da embarcação que neste trabalho definimos como Canoa Caiçara.
Trecho extraído do Dossiê Canoa Caiçara, para registro de bem cultural imaterial junto ao IPHAN.
(1) Verschleisser 1990:89; Maldonado
2001:86 e Museu Nacional do Mar em: http://www.museunacionaldomar.com.br/estrutura/canoas.htm.
(2) Comissão
geographica geologica 2ª ed. 1919, capa Enc. Caiçara vol IV 2005 NUPAUB-USP.
(3) John Mawe 1944. Schmidt 1947,
Mussolini 1980, França 1951, Maldonado 2001, Klink 1983, Verschleisser 1990,
Oliveira 1983, Denadai 2009, Noffs 2004, Diegues 2004.
Fonte sobre mastreação: sp modelismo.
Olá Peter, tudo bem? Sou pesquisador também e trabalho junto a comunidades Caiçaras de Paraty. Você teria como disponibilizar o "Dossiê Canoa Caiçara, para registro de bem cultural imaterial junto ao IPHAN."? acompanho este blog faz algum tempo, você está de parabéns!!!
ResponderExcluirObrigado Papu. Estou formatando o Dossiê para torná-lo disponível brevemente. Assim que este processo for finalizado eu lhe aviso. Caso seu interesse seja mais específico, podes me enviar um e-mail para bambuluz@yahoo.com.br que eu tentarei ajudar se possível.
ExcluirNovo link do Dossiê: https://nupaub.fflch.usp.br/sites/nupaub.fflch.usp.br/files/DOSSI%C3%8A%20IPHAN%20V14.pdf
ExcluirIncrível essa história da Canoa de Voga ,verdadeiros navios feitos do tronco de uma só árvore,vinte metros X dois de largo, talhado à mão, quando surgiu a primeira? Imagino que a Canoa de Voga quando surgiu foi uma grande evolução para a época,fruto da miscigenação naval indígenas e européia.
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