sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CADERNO DE CAMPO - PRIMEIRAS LIÇÕES.

Essa é da série Cadernos de Campo.
Minha primeira aula de pesca tradicional, como o João Batista e o Marquinho a bordo do Arcanjo Miguel numa segunda-feira "de carnaval", 15 anos atrás. Que sorte ter anotado com tantos detalhes.
Local: Ilhote de Sul.
Isca: Lula e cocoroca pescadas no local.
Equipamento: Garatéia de espada e linhada de mão.
H2O: Água ao sul.
Hora: Entardecer até a noitinha.

O segredo para um diário de campo é usar o lápis (ou caneta com tinta à prova d'água) e a liberdade, ou seja, observar e anotar não só aspectos relevantes ao objeto de estudo, mas também os que possam vir a ter alguma relevância algum dia, ou ainda os que realmente são irrelevantes, mas que por algum motivo chamam a atenção do pesquisador. É interessante notar como a anotação de situações simples e aparentemente irrelevantes, passam a ser casos ilustrativos de observações, às vezes sistemáticas, realizadas ao longo do estudo. Os diários, sem dúvida, possibilitam o retorno mental ao campo, exercendo por pequenos detalhes o estímulo à memória, quase como se realizássemos outra viagem. São formas de reviver as pesquisas de campo, não só em seus aspectos humanos, mas também em muitos outros, tais como os biológicos e ecológicos. Outra característica que resguarda estes conhecimentos é a persistência. Sem ela nenhum trabalho de campo teria continuidade. Bastaria uma noite mal dormida, um tempo ruim, uma resposta lacônica de um pesquisado ou algumas picadas de mosquito e toda a seqüência do trabalho estaria comprometida. Os diários contam os detalhes da relação entre o pesquisador(a) e a comunidade, seja nas diferenças ou ainda nas expectativas criadas entre um e outro. São ensinamentos sobre as interações entre diferentes indivíduos e culturas, sobre suas semelhanças e sobre suas perspectivas. Estar e viver num mesmo país mas em contextos diferentes, tanto ambientais quanto econômicos e culturais, proporciona aprendizados recíprocos, que só ocorrem através da integração da comunidade e do pesquisador. (CAMARGO e BEGOSSI: 2006: p.12-13)

Camargo, E.; Begossi, A. (2006) Os diários de campo da Ilha dos Búzios. São Paulo: Ed. Hucitec.

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