As práticas tradicionais são hoje
reconhecidas por parte da comunidade científica como sustentáveis e de certo
modo possuidoras de valor científico.
Para Sanches, dois dos aspectos que
fundamentam os pressupostos políticos-ambientais a favor da permanência de
determinados grupos em áreas protegidas são: ... [o] conhecimento inerente de
suas experiências ancestrais sobre a ecologia das espécies e tipos de
tecnologia apropriada que lhes permitiram se adaptar e reproduzir-se cultural e
materialmente;... pela existência de uma relação de equilíbrio entre as
práticas de manejo e o meio ambiente e de mecanismos culturais
conservacionistas que impediriam a depleção dos recursos naturais em níveis
comprometedores à manutenção dos mesmos. As populações tradicionais seriam,
portanto, responsáveis inclusive pela preservação da biodiversidade.(1997: 27) (ADAMS, 2000:161).
Sobre este aspecto,
Lúcia Helena Cunha postulou:
A importância das sociedades
tradicionais aparece também no pensamento de Vieira (1995, p. 304) afirmando
que suas lições nos processos de apropriação, uso e gestão de recursos
renováveis litorâneos, podem se constituir em pontos de referências relevantes
na construção da proposta de gestão patrimonial. Para ele, [...] se o respeito
pelo uso sustentado dos recursos tornar-se algo compartilhado pela comunidade,
aumenta as chances de êxito de formas de gestão capazes de favorecer o alcance
simultâneo de uma distribuição mais eqüitativa da riqueza gerada e de aumento
das margens de sustentabilidade dos recursos da comunidade”. Nessa direção,
preocupado com os processos que tendem a desarticular as formas tradicionais de
organização da pesca artesanal, esse autor coloca que: “em termos concretos
caberia empreender, num primeiro momento, a diversificação do potencial dos
recursos existentes em cada micro-região litorânea, em sintonia com a
valorização de formas tradicionais detida pelo pescador” (Vieira, 1995, p.
306-312). Assim, esse conhecimento ungido de diálogos e duelos com os próprios
movimentos da natureza deve ser atualizado, restaurado e revigorado para a sua
própria permanência no tempo; em particular em face da premência de novos
paradigmas de uso sustentável dos recursos naturais que, sem abstrair a
importância do conhecimento tradicional das comunidades pesqueiras nas
localidades pesquisadas, deve colocar em outro patamar as suas condições de
vida. (CUNHA, 2008:10).
BIBLIOGRAFIA:
ADAMS, Cristina. “As populações caiçaras e o mito do bom selvagem: a
necessidade de uma nova abordagem interdisciplinar”. Revista de Antropologia,
vol.43, n.1, São Paulo, 2000. Consulta na internet, endereço http://www.scielo.br/pdf/ra/v43n1/v43n1a04.pdf, em 20 de abril de 2012
CUNHA, Lúcia Helena de Oliveira. Diálogo de
saberes entre tradição e modernidade: ordens e desordens. 26ª. Reunião
Brasileira de Antropologia 2008 Porto Seguro, Bahia, Brasil p. 18. Consulta na internet, endereço
http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2021/lucia%20helena%20de%20oliveira%20cunha.pdf,
em 20 de abril de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário