sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CADERNO DE CAMPO - TARRAFA, PICARÉ e CANOA DE APARA.

Mais uma dos meus Cadernos de Campo, janeiro e fevereiro de 2002.
Minha primeira rede foi uma tarrafa que comprei no Recham ("Aleijadinho") pra matar uns paratis miúdos que ficavam no lagamar da praia em cima do cano do esgoto. Limpava, lanhava, salgava e fritava com azeite pra comer com farinha e café. Cabiam três certinhos na frigideira e posso dizer que nenhum peixe feito assim é mais gostoso que o parati "batendo a boca".
Aí o Antenor dos Santos me ensinou a como jogar a tarrafa direito, como arrastar o picaré do modo correto e como era a Canoa de Apara usada no "tempo dos antigos" durante o lanço da tainha.

CADERNO DE CAMPO - ENTRALHAR, REMENDAR, ENCABEÇAR E PERFIAR A REDE.

Outra de série Cadernos de Campo.
Infelizmente não anotei o dia, mas como foi o Seu Elídio (da Trindade - R.J.), pai do Waldecy, quem me ensinou o "andar da rede", dizendo com aquele sotaque caiçara legítimo que no "tempo frio" dá muito branco aí no largo da Enseada, foi provavelmente em maio de 2000 que comecei a aprender os segredos da rede de pesca.




CADERNO DE CAMPO - PRIMEIRAS LIÇÕES.

Essa é da série Cadernos de Campo.
Minha primeira aula de pesca tradicional, como o João Batista e o Marquinho a bordo do Arcanjo Miguel numa segunda-feira "de carnaval", 15 anos atrás. Que sorte ter anotado com tantos detalhes.
Local: Ilhote de Sul.
Isca: Lula e cocoroca pescadas no local.
Equipamento: Garatéia de espada e linhada de mão.
H2O: Água ao sul.
Hora: Entardecer até a noitinha.

O segredo para um diário de campo é usar o lápis (ou caneta com tinta à prova d'água) e a liberdade, ou seja, observar e anotar não só aspectos relevantes ao objeto de estudo, mas também os que possam vir a ter alguma relevância algum dia, ou ainda os que realmente são irrelevantes, mas que por algum motivo chamam a atenção do pesquisador. É interessante notar como a anotação de situações simples e aparentemente irrelevantes, passam a ser casos ilustrativos de observações, às vezes sistemáticas, realizadas ao longo do estudo. Os diários, sem dúvida, possibilitam o retorno mental ao campo, exercendo por pequenos detalhes o estímulo à memória, quase como se realizássemos outra viagem. São formas de reviver as pesquisas de campo, não só em seus aspectos humanos, mas também em muitos outros, tais como os biológicos e ecológicos. Outra característica que resguarda estes conhecimentos é a persistência. Sem ela nenhum trabalho de campo teria continuidade. Bastaria uma noite mal dormida, um tempo ruim, uma resposta lacônica de um pesquisado ou algumas picadas de mosquito e toda a seqüência do trabalho estaria comprometida. Os diários contam os detalhes da relação entre o pesquisador(a) e a comunidade, seja nas diferenças ou ainda nas expectativas criadas entre um e outro. São ensinamentos sobre as interações entre diferentes indivíduos e culturas, sobre suas semelhanças e sobre suas perspectivas. Estar e viver num mesmo país mas em contextos diferentes, tanto ambientais quanto econômicos e culturais, proporciona aprendizados recíprocos, que só ocorrem através da integração da comunidade e do pesquisador. (CAMARGO e BEGOSSI: 2006: p.12-13)

Camargo, E.; Begossi, A. (2006) Os diários de campo da Ilha dos Búzios. São Paulo: Ed. Hucitec.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Que peixe que é esse pai?

Essa é da série: Vendendo peixe no lagamar da praia. Causo quase verídico.

Olha o peixinho filho...
Que peixe que é esse pai?
Não sei, o moço é que sabe...
Que peixe que é esse moço??
Pirajica.
Piragica?
É... pirajica.
Olha o bichinho pai!´
É um siri filho...
(Ai ai ai... pra turista tudo é siri...)
É um siri moço?
Não... é uma santola.
É uma santola pai!
Cuidado que ela agarra seu dedo...
(Vai agarrá e esse minino ainda vai abrí o berrero...)
Vamo filho... deixa o moço trabalhar...
(É... se não vai comprar nada, num atenta...)
P.S. Na verdade eu sempre gostei de "ensinar" os turistas e saciar a curiosidade das crianças sobre as criaturas do mar, a hora passa mais depressa e a canoa fica sempre rodeada de gente.
Mas outros mais turrões é que me inspiraram para esse registro.

O SERROTE O SACI E A MELANCIA

Infelizmente não registrei quem me contou, acho que o Tião Lourenço, ou talvez o Nelson ou o Antenor... mas se perguntar lá na Praia da Enseada pros mais antigos eles devem lembrar.

"São José era carpinteiro e o serrote dele foi ficando cego. Então o Saci pra atentar ainda mais ele pegou o alicate e torceu os dentes do serrote um pra cada lado, pensando que ia atrapalhar mais ainda o São José. Então no outro dia São José pegou o serrote e cortou que foi uma beleza.
Ele que não conhecia o que era travar o serrote aprendeu com o Saci que só quis inticar".
"A comadre tava desconfiada que a outra tava roubando melancia da roça. Então quando a outra passava pela porta da casa ela gritava: Ô cumadre faz que nem eu assim com as mão! (e levantava os dois braços). A outra erguia lá do mato só uma mão e dizia: Cada um faiz como pode cumadre! Cada um faiz como pode! (se não a melancia caía do outro braço).