A MANUTENÇÃO E TRANSMISSÃO DO SABER TRADICIONAL CAIÇARA
A capacidade adaptativa das comunidades caiçaras a um
ambiente marinho sujeito a bruscas mudanças e as relações entre cultura e
natureza dentro de uma abordagem human-in-ecosyistem
(BERKES et al.,
2003:53), contribuem com a visão de que o conhecimento
tradicional acumulado e transmitido oralmente pelos mais idosos e experientes
são fundamentais para a manutenção desta capacidade adaptativa frente às
grandes mudanças que muitas vezes podem ocorrer e se repetir em períodos
cíclicos, sendo portanto fundamental a manutenção e reprodução destes saberes
tradicionais entre as gerações, para que elas estejam preparadas no futuro.
Aprendizagem, ou enskilling, é um processo que pode ser
descrito como a “educação da atenção”, deste modo anciãos criam contextos
estruturados através dos quais o iniciante pode construir as suas próprias
habilidades de percepção em relação ao meio ambiente total, biofísico e social.(...)O
conhecimento do ambiente, nesta perspectiva, é “(...) não de um tipo formal,
autorizado, transmissível em contextos fora aqueles de sua aplicação prática.
Pelo contrário, baseia-se no sentimento, que consiste nas habilidades,
sensibilidades e orientações que se desenvolveram através da longa experiência
de conduzir a vida em um ambiente particular” (Ingold, 2000). (BERKES et al.,2003:68).
O vídeo a seguir retrata in loco como estas operações de transmissão de saber acontecem na prática diária da atividade pesqueira artesanal. O link: http://www.youtube.com/playlist?list=PLBpXFzQ1-RlO0pNrEXFxmDI2p3eZW5xJ9 remete a uma série de 7 vídeos filmados na Praia da Enseada em Ubatuba - SP , que detalham como naturalmente acontece este processo didático tradicional.
Todos estes aspectos levantados por Davidson-Hunt e Berkes
ainda contribuem para a formação dos conceitos
de identidade cultural e sentido
de lugar (BERKES et al., 2003:73)
que são considerados associados às atividades práticas das pessoas, às
percepções de um ecossistema, e às redes de trabalho relacionais que as pessoas
constróem dentro deste ecossistema. Sendo portanto fundamental para os autores,
incentivar e assegurar que as pessoas que estão “atentas à terra” sejam capazes de continuar a ganhar a vida em um ecossistema,
como uma maneira eficaz para nutrir sistemas sócio-ecológicos rompendo com a dicotomia
amplamente aceita da oposição entre subsistência e natureza.
Fontes:
1- BERKES, F.; COLDING, J,; FOLKE C. (edit) (2003). Navigating social-ecological systems: building resilience for
complexity and change. Cambridge: University Press.
2-NÉMETH. P. S.(2012). A
tradição pesqueira caiçara da Ilha Anchieta em Ubatuba, São Paulo; os impactos da criação do parque estadual sobre a reprodução sociocultural.
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