segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TRADIÇÃO CAIÇARA - TRANSMISSÃO DO SABER



A MANUTENÇÃO E TRANSMISSÃO DO SABER TRADICIONAL CAIÇARA

A capacidade adaptativa das comunidades caiçaras a um ambiente marinho sujeito a bruscas mudanças e as relações entre cultura e natureza dentro de uma abordagem human-in-ecosyistem (BERKES et al., 2003:53), contribuem com a visão de que o conhecimento tradicional acumulado e transmitido oralmente pelos mais idosos e experientes são fundamentais para a manutenção desta capacidade adaptativa frente às grandes mudanças que muitas vezes podem ocorrer e se repetir em períodos cíclicos, sendo portanto fundamental a manutenção e reprodução destes saberes tradicionais entre as gerações, para que elas estejam preparadas no futuro.

Aprendizagem, ou enskilling, é um processo que pode ser descrito como a “educação da atenção”, deste modo anciãos criam contextos estruturados através dos quais o iniciante pode construir as suas próprias habilidades de percepção em relação ao meio ambiente total, biofísico e social.(...)O conhecimento do ambiente, nesta perspectiva, é “(...) não de um tipo formal, autorizado, transmissível em contextos fora aqueles de sua aplicação prática. Pelo contrário, baseia-se no sentimento, que consiste nas habilidades, sensibilidades e orientações que se desenvolveram através da longa experiência de conduzir a vida em um ambiente particular” (Ingold, 2000). (BERKES et al.,2003:68).
O vídeo a seguir retrata in loco como estas operações de transmissão de saber acontecem na prática diária  da atividade pesqueira artesanal. O link: http://www.youtube.com/playlist?list=PLBpXFzQ1-RlO0pNrEXFxmDI2p3eZW5xJ9 remete a uma série de 7 vídeos filmados na Praia da Enseada em Ubatuba - SP , que detalham como naturalmente acontece este processo didático tradicional.

Todos estes aspectos levantados por Davidson-Hunt e Berkes ainda contribuem para a formação dos conceitos  de identidade cultural  e sentido de lugar (BERKES et al., 2003:73) que são considerados associados às atividades práticas das pessoas, às percepções de um ecossistema, e às redes de trabalho relacionais que as pessoas constróem dentro deste ecossistema. Sendo portanto fundamental para os autores, incentivar e assegurar que as pessoas que estão “atentas à terra” sejam capazes de continuar a ganhar a vida em um ecossistema, como uma maneira eficaz para nutrir sistemas sócio-ecológicos rompendo com a dicotomia amplamente aceita da oposição entre subsistência e natureza.
Fontes:
           1- BERKES, F.; COLDING, J,; FOLKE C. (edit) (2003). Navigating social-ecological systems: building resilience for complexity and change. Cambridge: University Press.
2-NÉMETH. P. S.(2012). A tradição pesqueira caiçara da Ilha Anchieta em Ubatuba, São Paulo; os impactos da criação do parque estadual sobre a reprodução sociocultural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário