Feito de algodãozinho foi entralhado com capricho segundo um modelo mental do próprio Seu Dito, que confeccionou o pano com "punho"e "bolso"; o mastro e a verga são de "chile" lá da Ilha mesmo, uma coisa linda.
Então comentei com o Mário Gato que tinha lido seu relato no livro Com Quantas Memórias se Faz uma Canoa sobre a vontade dele reconstruir um "traquete" ou "mezena" para navegar "a pano" como as vogas de antigamente, seguindo no "terralão"até a Ilha Grande.
No relato ele diz que tem anotada toda a descrição detalhada de como construir o pano, recitada para ele pelo Mestre David Alexandrino.
Foi então, nesta conversa em meio ao Fandango Caiçara que descobrí que este modelo de pano que ele tem é o de "vela de espicha" e não o "traquete" e a "mezena", mais comumente citados na região de Ubatuba, que são a "vela quadrada" e a "vela latina" respectivamente.
Curioso é que este tipo de pano é mais comum na Ilha de Santa Catarina, especificamente na Costa da Lagoa, onde belas e incrivelmente velozes competições acontecem entre os canoeiros locais. As corridas de canoa a vela da Costa da Lagoa são incentivadas pela amiga Jackie Goulart.
A vela de espicha permite orçar com mais facilidade o que proporciona uma navegação com maior independência da direção do vento, diferente do traquete que permite apenas navegar com vento "em popa", sendo necessário remar caso o vento mude de direção.
De espicha, traquete ou mezena, a verdade é que "correr pano" ou navegar numa canoa a vela ao sabor do vento e da imaginação é uma das sensações mais prazeirosas e libertadoras que existe. Pura vida, como neste vídeo maravilhoso do meu amigo Adriano Perna, na costa do Bonete - Ilhabela, onde a tripulação é constituída por três safos marinheiros de 5, 7 e 10 anos.