Em 1947, Carlos Borges Schmidt escreveu em Alguns Aspectos da Pesca no Litoral Paulista:
"Recolhido e amontoado o peixe no enxuto. arrastada a rede em sêco antes que se cuide de outra coisa, tem lugar a repartição. Os sócios do trabalho receberão agora, cada um a sua paga. Do peixe todo amontoado, retira-se o terço. este pertence ao dono da rede. (...) Os dois terços restantes pertencem aos camaradas, aos ajudantes e ao espia. Os primeiros têm direito a um quinhão, os ajudantes a meio quinhão e por fim, o espia a pagamento dobrado: dois quinhões. À responsabilidade maior, ao trabalho mais prolongado ( O espia persegue o cardume durante noite e dia até que ele fique ao alcance das redes. Nota minha.), à capacidade profissional mais desenvolvida - a paga justa e merecida. Formam, os que trabalharam, um círculo ao redor do peixe amontoado e que vai ser repartido. Nada de cálculos matemáticos: a repartição é mecânica. ( Nesse caso, a pesca da tainha, trata-se de apenas uma qualidade de peixe pescado. Nota minha.) O redeiro vai distribuí-lo, peixe por peixe, de um em um, ou em maior número de cada vez, tal seja a proporção da colheita."
Gioconda Mussolini por volta de 1950 também aborda o tema em Ensaios de Antropologia Indígena e Caiçara, sobre a pesca da tainha:
Para iniciar-se a divisão, trata-se primeiro de separar o terço. (...) Do monte maior sairá o "quinhão" dos que trabalharam, quinhão variável segundo o vulto da pescaria e o número de participantes. Para isso, se não há muito peixe, a tarefa é fácil: dispõe-se os camaradas em círculo ao redor e aos seus pés vai sendo lançado, um por um, até perfazer a roda toda, (...)
foto: Peter Santos Németh - Praia da Enseada |
O quinhão é uma legítima instituição Caiçara que perdura até os dias de hoje, levando-nos a uma reflexão profunda sobre o valor e a organização social do trabalho em casos onde o dinheiro pode ser dispensado.
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