The
perception of the environment: essays in livelihood, dwelling and skill ou A
percepção do ambiente natural: ensaios em meio de vida/subsistência, habitação
e habilidades práticas – Tim Ingold.
Resumo Peter Santos Németh
Devido à complexidade das ideias contidas nesses
ensaios de Ingold, será dada atenção apenas ao texto introdutório que consegue
em linhas gerais oferecer uma panorâmica do pensamento do autor sobre o que é o
biológico e o que é o cultural nos seres humanos em sua
relação com o ambiente natural.
Nesse trabalho Tim Ingold oferece uma persuasiva nova
abordagem para a compreensão de como os seres humanos percebem seu ambiente
circundante. Ele argumenta que aquilo que nós costumamos chamar de variação
cultural consiste, em primeiro lugar, de variações da habilidade prática. Nem
inatas, nem adquiridas, as habilidades
práticas são “cultivadas”, incorporadas ao organismo humano através do
treino e da prática associados à um ambiente. Habilidades práticas são
portanto, tanto biológicas quanto culturais.
Para explicar como são geradas as habilidades
práticas, o autor propõe antes entender as dinâmicas de desenvolvimento, que
por sua vez, clamam por uma abordagem ecológica que situa os praticantes num
contexto de engajamento ativo com os
componentes constituintes do seu ambiente
circundante.
Os vinte e três
ensaios que compreendem esse livro focam em iniciar a busca por meios de
subsistência nos quais o significado de “habitar” e a natureza da habilidade
prática entrelacem as abordagens da antropologia social, da psicologia
ecológica, da biologia desenvolvimentista e da fenomenologia, de um modo jamais
experimentado antes.
O livro é posto para revolucionar o modo como pensamos
o que é “biológico” e “cultural”, nos humanos; sobre evolução e história; e
certamente sobre o que significa para os seres humanos (ao mesmo tempo
organismos e pessoas), “habitar” um espaço natural. The perception of the environment será uma leitura essencial não só
para antropologistas mas também para biólogos, psicólogos, arqueólogos,
geógrafos e filósofos.
Na Parte I, “Meio de Vida/Subsistência” (Livelihhod), o autor foca nos modos como
os seres humanos se relacionam com os componentes do espaço natural durante as
atividades que proporcionam a subsistência. Ingold baseou-se particularmente em
estudos etnográficos de povos cujo meio de vida é essencialmente construído
pela caça e coleta. Na literatura antropológica existente sobre sociedades
caçadoras coletoras, questões sobre como pessoas interagem, prática e
tecnicamente, com os recursos do ambiente natural para obtenção dos meios de
subsistência tendem a ser tratados separados das questões de como o seu “mundo
vivo” é imaginativamente construído com mitos, religiões e cerimônias. Os meios
de subsistência são tipicamente dirigidos em termos naturalistas, muitas vezes
através da comparação com o comportamento “forrageiro” de animais não humanos,
aproveitando as mesmas estruturas dos conceitos e teorias empregados pelos
ecologistas animais. Já os mitos, religiões e cerimônias por contraste, são
considerados tópicos adequados para uma análise cultural, devido a sua
preocupação com as formas pelas quais o ambiente natural e as relações que as
pessoas têm com ele, são representados na consciência.
O autor acredita que essa divisão entre as
considerações “naturalísticas” e “culturalógicas” é lamentável, na medida em
que pressupõe precisamente a separação entre o “naturalmente real” e o
“culturalmente imaginado”. Para Ingold é necessário colocar esse ponto em
questão se quisermos chegar ao fundo da própria percepção de mundo das pessoas.
Partindo da premissa que modos de agir no ambiente
natural são também modos de percebê-lo, os ensaios sugerem como essa divisão
poderá ser superada.
No Capítulo 1, o autor definiu um cenário comparando
as explicações que os biólogos ocidentais e os caçadores indígenas dão ao
comportamento do caribu durante os episódios de predação. Ele mostra que a
autoridade científica da primeira explicação, bem como a compreensão
antropológica da última, encaixam-se dentro de uma cosmologia (origem de um
universo) culturalmente específica, que depende de um “desengajamento” feito em
duas etapas que primeiro elimina a natureza, depois a cultura, como objetos de
atenção.
Bibliografia:
INGOLD, T.. The perception of the environment : essays
in livelihood, dwelling and skill, London, Routledge, 2000.
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