Mais um arquivo vivo da cultura caiçara de Ubatuba nos deixou, uma enorme biblioteca de memórias haliêuticas que se perdeu.
Colocando o sobrenício na canoa. Foto: Peter santos Németh, 2010. |
Tive o privilégio de conviver como Tião por mais de 10 anos e aprender com ele uma ínfima partezinha de tudo o que ele sabia: provar o bacupari, aprender a colocar o sobrenício, fazer um alegre. Outras mais misteriosas tentei entender como: o responso, o carvão vivo da fogueira de São João e a pedra de cevá.
Quantas histórias fantásticas de ouro encantado, boitatá, assombração ele me contava com tanta vivacidade que seria impossível dizer que não fossem verdade.
Em maio de 2009 cumprindo a missão de Capitão da Fogueira, trazendo lenha da costeira para a fogueira da Igrejinha. Foto: Peter Santos Németh |
Tive ainda a sorte de poder registrar em vídeos e áudios muitos destes fragmentos.
Em nosso último encontro, já no hospital, levei-lhe 15 páginas de transcrições retiradas de quase duas horas de gravação: "Dá quase um livro Tião!" lhe falei. (Apenas 2 horas, 15 páginas, quanto não dariam 70 anos de sabedoria!?)
Nesse dia pude dar-lhe um forte abraço sem o gosto de despedida, mas de um até breve.
Até breve Tião, muito obrigado por me tornar um ser humano muito melhor do que eu era antes de te conhecer. 03/08/1945 - 28/04/2015.
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