sábado, 18 de junho de 2016

É PRECISO PENSARMOS A TAINHA 2

Escrevi recentemente sobre o impacto da frota industrial sobre a captura da tainha e as consequências desta expropriação de um recurso natural que desde os primeiros registros históricos (STADEN, 1557) é a base da cultura litorânea de centenas de comunidades tradicionais do sudeste sul brasileiro:
http://canoadepau.blogspot.com.br/2015/06/e-preciso-pensarmos-tainha.html

Fonte principal: ARTIGO PESCA DE TRÓIA REPESCA 2016

Também, recentemente a tradicional pesca artesanal de tróia, a mais praticada na captura da tainha no litoral caiçara, passou a ser considerada ilegal, transformando a cultura dos pescadores em crime:
http://canoadepau.blogspot.com.br/2016/03/a-extincao-da-pesca-artesanal.html

Felizmente, nesta safra de tainha de 2016, quando as 50 traineiras (isso mesmo 50!) tentaram renovar suas licenças, não conseguiram, pois 100% delas haviam pescado em áreas proibidas no ano passado:
http://www.agricultura.gov.br/animal/noticias/2016/06/mapa-indefere-concessao-de-pesca-da-tainha-para-50-embarcacoes

Miranda (et al., 2011) defendem a suspensão da pesca de tainha pela frota de traineiras, e citam que em julho de 2010, apenas uma única traineira matou mais tainhas do que o total capturado no mesmo mês pela pequena pesca, em catorze (14) municípios paulistas. Alertam também que em São Paulo nesse mesmo ano de 2010, nos meses de junho e julho, apenas 1,1% das unidades produtivas envolvidas na pesca da tainha, eram de traineiras. Mesmo assim foram responsáveis, realizando apenas 0,4% das descargas, por 50,1% da captura total de tainhas. Demonstram os autores, cabalmente, a imensa desproporcionalidade entre a frota de traineiras e a pequena pesca, resultando em competição desigual, menor disponibilidade da espécie para as populações tradicionais e maiores custos sócio-econômicos e culturais para os usuários desse recurso pesqueiro(MIRANDA et al 2011: p.17-19).

Sabe-se no entanto que a imprevisibilidade é a única certeza quando se fala em recursos pesqueiros e tentar conseguir prever estas situações de altos e baixos da produtividade marinha é onde o progresso do conhecimento, pode ser de extrema ajuda (Andrew Bakun,1996).

Coincidência ou não, é fato consumado que nesta safra de 2016, as comunidades tradicionais caiçaras estão tendo resultados recordes com a pesca de tainhas. Vamos deixar as fotos falarem:

Fotos de: Mulheres Artesãs da Enseada da Baleia:

Fotos de: Leila Anunciação, Trindade R.J.:


Fotos de Ten. Cel. Macário Ubatumirim, Ubatuba:

Fotos de Fabíola Soares, Praia da Justa, Ubatuba:

Dezenas de comunidades caiçaras estão ganhando o seu quinhão. A cultura da tainha está sendo repassada e saberes ancestrais estão novamente sendo exercitados.

Os industriais reclamam prejuízos com a exportação do CAVIAR BRASILEIRO para os chineses.
A ova de tainha é uma iguaria exportada pelo brasil e custa aqui quase 500 reais o quilo: BOTTARGA
 
Bem, fala pros chineses que lá no Paulinho, na Praia da Enseada, tem ova de montão! Este ano o caviar é dos caiçaras!

Foto de Roberto Ferrero, Praia da Enseada, Ubatuba:

Mais informações sobre o caso no blog: ÚÚÚÚ!!! TAINHA NA REDE.

Atualizado em 25/04/17: Artigo relacionado recente CEPSUL: DE QUEM È O PEIXE? 

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