Acredito ser o modo de falar Caiçara uma das características mais marcantes desta cultura praiana, e é justamente este aspecto o mais ameaçado. Hoje expressões vindas de fora como "meu", "véio", "tá ligado" domina o linguajar dos jovens Caiçaras.
Outro conhecimento muito importante que está sumindo é aquele referente aos pesqueiros.
Pra quem não sabe, cada pedra de costeira tem um nome próprio que designa aquele local específico onde é bom de pescar. É como se fosse um endereço completo, que através do nome, mentalmente o pescador localiza o lugar, o tipo de peixe que lá existe e qual o equipamento de pesca ideal a ser usado.
Esse sistema de marcação ocorre em toda a costeira do litoral, e é través dele que os pescadores organizam suas pescarias para que uma rede não atrapalhe a do outro, são as regras do respeito.
Durante minhas pesquisas identifiquei dezenas de nomes, principalmente na região da Praia da Enseada, que é onde mais pesquei. Mas em todas as costeiras de todas as comunidades esse sistema antigo existe, ainda que restrito a alguns poucos Mestres Caiçaras.
Seu Dito Pú, na Picinguaba, me ensinando alguns pesqueiros.
Por exemplo se eu falar em "Cana do Elpídio" ou "Furado", o Seu Dito Pú lá da picinguaba, vai saber onde fica; se falar em "Pedra do Cabrito" o Seu Gino da Barra-Seca me dirá onde é; se perguntar da "Mesa Pobre" e da "Piteira", o Antenor da Enseada ou o Tião Giraud vão saber me explicar que o primeiro é na Ilha Anchieta e o segundo fica na Enseada. E assim será em cada comunidade Caiçara.
Junto com cada pesqueiro desse, também existem dezenas de histórias referentes a pescarias bem ou mal sucedidas, peixes enormes que escaparam, "causos" de assombração, que geralmente são lembrados e recontados quando os pescadores visitam esses locais. É muito importante portanto preservar a manutenção desse método de transmissão cultural, garantindo o acesso desses pescadores a esses territórios pesqueiros ancestrais, pois é através deles que se garante a transmissão sociocultural e simbólica da Cultura Caiçara local. Infelizmente restam poucos Mestres Caiçaras para nos transmitir esse saber antigo, e menos interesse ainda dos mais jovens em aprender.
Mestre Antenor dos Santos, na "Itapeva". Meu maior professor, ensinando a mais um aprendiz seus segredos. A sua bença Antenor!
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